AP Photo/Leo CorreaUm profissional de saúde vacina um bebê contra sarampo no Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2018. As autoridades de saúde do Brasil estão lançando campanhas nacionais de vacinação contra o sarampo e a poliomielite, doenças que estão começando a aparecer com mais frequência no maior país da América Latina depois de terem sido erradicadas. (AP Photo / Leo Correa.)
Um site americano antivacinação que foi removido do Facebook, Twitter e YouTube no começo do ano encontrou um novo lar para seu conteúdo: o Brasil.O site Natural News é responsável por quase um terço de toda a desinformação encontrada nas redes sociais e outros sites visando o público brasileiro, segundo um novo estudo feito em conjunto entre a Sociedade Brasileira de Imunizações e a rede de ativismo de direitos humanos sem fins lucrativos Avaaz.“Da desinformação antivacina que investigamos, que foi refutada pelas agências mais relevantes de fact-checking do Brasil, muito do conteúdo foi originalmente produzido nos EUA e está sendo repostado por contas brasileiras”, diz o relatório, intitulado “As fake news estão nos deixando doentes?”.O Natural News é um dos sites antivacinação mais conhecidos dos EUA, mas em junho sofreu um golpe significativo quando o Facebook removeu sua conta, que tinha 3 milhões de seguidores. O YouTube e Twitter também removeram as contas ligadas ao site, e o Google derrubou o ranqueamento do site nas listas de pesquisa em 2017.Mas o relatório da Avaaz mostra que o Natural News e outros sites de teorias da conspiração estão espalhando sua mensagem antivacina sobre os supostos perigos da vacinação através de artigos traduzidos para o português, e compartilhados amplamente nas redes sociais brasileiras, além de em plataformas de mensagens criptografadas como o WhatsApp.Observando a amostra representativa de apenas 30 posts, os pesquisadores da Avaaz descobriram que desinformação antivacina no Brasil tem um alcance enorme.Esses 30 artigos e vídeos online foram compartilhados em várias plataformas – YouTube, Facebook e WhatsApp, e repostados em outros sites – alcançando pelo menos 2,4 milhões de visualizações no YouTube. No Facebook, os vídeos foram assistidos 23,5 milhões de vezes e compartilhados 578 mil vezes.Além de artigos originários do Natural News, os pesquisadores também descobriram conteúdo de vários outros sites americanos, incluindo GreenMedInfo, VacTruth, Conspiracy Club e Stop Mandatory Vaccination. A maioria dos artigos foram traduzidos do inglês para o português sem erros, sugerindo que esse não foi um processo automatizado.Os pesquisadores também entrevistaram brasileiros sobre suas atitudes com vacinação, e descobriram que 13% dos entrevistados não se vacinavam nem vacinavam as crianças sob seus cuidados.Quando a pergunta era por que eles não vacinavam, 57% deram razões que eram factualmente incorretas, como a crença de que vacinas aumentam as chances de efeitos colaterais sérios, ou que vacinas não são realmente necessárias. A Organização Mundial de Saúde rotula essas duas alegações como desinformação.Quase 50% das pessoas disseram que sua principal fonte de informação sobre vacinas são as redes sociais e aplicativos de mensagem como o WhatsApp.O mercado brasileiro é particularmente aberto para exploração daqueles espalhando desinformação: uma pesquisa da Ipsos anos passado descobriu que os brasileiros são os mais facilmente enganados por fake news. O relatório da Avaaz corroborou essa afirmação, descobrindo que 67% dos brasileiros estavam dispostos a acreditar em pelo menos uma declaração incorreta sobre vacinas.“O Brasil está experimentando uma epidemia de desinformação sobre vacinas”, disse Nana Queiroz, ativista da Avaaz no Brasil, no relatório. “Esse não é um problema político, é um problema pessoal que arrisca vidas. Grandes plataformas precisam reconhecer conteúdo antivacinação como viral e contagioso – se espalhando de país para país. É por isso que elas precisam começar imediatamente a mostrar correções para pessoas expostas a desinformação sobre vacinas, e ajudar as autoridades a espalhar conteúdo confiável por todo o globo.”Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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