Quando eu estava no colegial, toda quinta-feira depois da aula, eu pegava o metrô para uma grande biblioteca pública no centro de Montreal. Lá, eu ia direto para a seção de fotografia e pegava todo livro que conseguisse encontrar. Eu tinha uma fome voraz de imagens, apesar de não ter certeza do que estava procurando nelas. A primeira vez que vi corpos queer numa fotografia, encontrei a resposta. A foto estava no livro de Wolfgang Tillmans Truth Study Center. Era uma foto de dois homens suados se beijando. Fiquei obcecada por aquele livro. O emprestei várias vezes e o estudava religiosamente. Nele, encontrei uma intimidade.
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A primeira vez que vi corpos trans naquela biblioteca foi num trabalho de Nan Goldin, o clássico Ballad of Sexual Dependency, um slideshow autobiográfico retratando cenas íntimas e mundanas da vida da artista em Nova York nos anos 1980, incluindo imagens da subcultura queer pós-Stonewall. Logo depois, encontrei a monografia de Bettina Rheims Modern Lovers, que oferecia retratos minimalistas em preto e branco de jovens não-conformados com gênero no começo dos anos 1990. Minha vida existe em duas partes: antes de ver essas imagens, e depois. Era como me ver no espelho pela primeira vez.Os livros de Nan Goldin, Bettina Rheims e Wolfgang Tillmans me fizeram, aos 18 anos, sentir que era parte de algo maior que eu. Mas conforme o tempo passou, e eu comecei a me documentar, documentar meus amigos, minha própria transição, comecei a questionar por que todas aquelas imagens de corpos trans a que fui exposto crescendo foram fotografadas através de lentes cisgênero. O que não estava sendo dito?Para responder essa pergunta, abordei nove fotógrafos trans e não-binários – amigos próximos, e alguns artistas que sempre admirei de longe – e pedi a cada um deles para me mandar uma foto ou projeto deles focado no eu e na comunidade trans e/ou não-binária. A ideia era explorar a dinâmica íntima que se manifesta quando indivíduos trans testemunham uns aos outros (ou a si mesmos). Eu queria saber: Por que nos documentamos? O que significa ser visto? O que acontece quando vemos uns aos outros. Abaixo você vê as respostas deles. – Laurence Philomène
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