Charles Bukowski animado e sem censura

Capturas de tela via

Em uma conversa extremamente cândida, o poeta obsceno Charles Bukowski conversava com sua esposa e com o produtor de sua antologia Run with the Hunted sobre a maneira com que a criatividade o consumia. Se não escrevesse, morria. “É uma libertação. É minha psiquiatria, botar essa merda toda para fora”, disse em Charles Bukowski Uncensored Candid Conversation, publicado pela Harper Collins.

A obra de Bukowski foi publicamente censurada pelo machismo claro e o elitismo sutil que contém – o que significa que devemos ouvir com cautela o que ele tem a dizer sobre a criatividade. Bukowski se comparava a jovens autores que atingiam o sucesso na faixa dos 20 anos e passavam o resto de suas vidas em festas. “Fui abençoado com uma vida de merda”, disse. “Uma vida de merda sobre a qual escrever”. O cineasta Saif Ullah, do Animation by Quoted Studios, adiciona uma dose apropriada de sujeira ao visual da conversa, que destaca a depravação que seduz e causa repulsa aos leitores de Bukowski.

O mais atrativo talvez seja, porém, sua relação com a escrita e a criatividade. “Sabe no que tenho interesse?”, perguntou. “Vou escrever amanhã à noite. Isso é tudo que me interessa. O próximo poema. O próximo verso… Se você não consegue escrever o próximo verso, você está morto.” Mas a simples fascinação é motivo para perdoar décadas de misoginia e outros comportamentos abjetos? Obviamente, não. Mas, se não podemos aprender com pessoas com quem discordamos, ou que achamos deploráveis, então séculos de arte, história e cultura não serviram para nada. Como salienta Jerry Saltz, Wagner era antissemita, mas isso significaria que não podemos apreciar O Anel do Nibelungo?

22 anos se passaram desde a morte de Bukowski, e a maneira com que vemos obra e autor permanece relevante. “Acho que vão me descartar depois que eu morrer”, disse na entrevista de 1993, dada um ano antes de sua morte e que pode ser vista abaixo. Ele estava certo. Sua opinião sobre o assunto? “Vai ser revoltante.”

Veja mais conversas animadas na página do Quoted Studios.

Tradução: Flavio Taam